Presidente eleito encampou propostas de aliados, mas não detalhou medidas práticas
Eleito pela terceira vez presidente do Brasil neste domingo (30), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou em discurso logo após a vitória que começaria imediatamente a montar uma equipe e levantar a atual situação do país para conseguir governar a partir de janeiro de 2023.
Sem um programa de governo detalhado, a campanha de Lula foi acusada de querer um cheque em branco para governar.
Apoiado no segundo turno por ex-adversários, como a senadora Simone Tebet e o presidente do PDT, Carlos Lupi, Lula aceitou encampar propostas dos aliados e, dias antes do segundo turno, divulgou a “Carta para o Brasil do Amanhã”, em que elenca 13 pontos prioritários, uma síntese das promessas anunciadas ao longo da campanha.
Encerrada a eleição, o principal desafio de Lula e sua equipe agora será fazer com que as promessas caibam no Orçamento do próximo ano, o que exigiria obter do Congresso uma licença para gastar mais que o permitido pelo teto.
VEJA AS PROPOSTAS INICIAIS DO PRESIDENTE ELEITO.
PLANOS ECONÔMICOS DOS CANDIDATOS
O que querem na economia os candidatos à Presidência
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Privatizações
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Salário mínimo
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Auxílio Brasil ou transferência de renda
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Emprego e retomada econômica
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Teto dos gastos
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Reforma tributária
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Reforma trabalhista
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Reforma da Previdência
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Banco Central
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Indústria
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Energia

PRIVATIZAÇÕES
Defende a proteção do patrimônio do país e uso das estatais para o desenvolvimento econômico. Fortemente contrário à privatização da Petrobras, da Eletrobras e dos Correios. Quer também fortalecer bancos públicos para fomentar o desenvolvimento. Em debate na Globo, no entanto, defendeu que estatais ineficientes sejam fechadas.

SALÁRIO MÍNIMO
Em material publicitário, campanha prometeu reajustes acima da inflação para o salário mínimo. Política de valorização recuperaria poder de compra da população e é considerada essencial para dinamizar a economia. Em entrevista à Folha, membro da campanha do PT afirmou que ganho real do salário mínimo em 2023 pode ser de 2%.
AUXÍLIO BRASIL OU TRANSFERÊNCIA DE RENDA
Em material publicitário veiculado no fim de agosto, campanha passou a prometer mais R$ 150 por criança de até seis anos (além do mínimo de R$ 600 por lar). Programa prevê recuperar características do Bolsa Família e ampliar garantia de cidadania para os mais vulneráveis. Objetivo é avançar por etapas em direção a um sistema universal com renda básica de cidadania

EMPREGO E RETOMADA ECONÔMICA
Retomada dos investimentos em infraestrutura e saneamento, reindustrialização em bases tecnológicas e ambientais, além de promover reforma agrária, a economia criativa e a economia verde. Apoio ao cooperativismo, empreendedorismo e às micro e pequenas empresas

TETO DE GASTOS
Revogar o teto dos gastos e rever atual regime fiscal brasileiro, para um que disponha de credibilidade, previsibilidade e sustentabilidade. Objetivo é “colocar os pobres no Orçamento e os super-ricos pagando impostos”

REFORMA TRIBUTÁRIA
Propõe reforma que simplifique tributos e que faça os pobres pagarem menos e os ricos, mais. Também promete combate à sonegação, simplificação de impostos, redução da tributação do consumo, e desoneração de produtos com maior valor agregado

REFORMA TRABALHISTA
Revogação de trechos da reforma trabalhista e nova legislação com proteção social, focada em autônomos, domésticos, teletrabalho, home office e trabalhadores mediados por aplicativos

REFORMA DA PREVIDÊNCIA
Reconstrução da seguridade e da previdência social para ampla inclusão dos trabalhadores, revisando medidas aprovadas pelo governo Bolsonaro

BANCO CENTRAL
Tarefa prioritária será coordenar a política econômica para combater a inflação e enfrentar a carestia, em particular a dos alimentos e a dos combustíveis e eletricidade

INDÚSTRIA
Reverter o processo de desindustrialização e promover a reindustrialização de setores e dos associados à transição para a economia digital e verde; política industrial deve manter o foco nas prioridades do país e alavancar a capacidade tecnológica nacional e a inovação

ENERGIA
Garantir a soberania e a segurança energética do país, com ampliação da oferta, aprofundando a diversificação da matriz, com expansão de fontes limpas e renováveis a preços compatíveis com a realidade brasileira
LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA PARA O BRASIL DO AMANHÃ
VEJA OS PONTOS DESTACADOS PELA CARTA:
1 – Desenvolvimento econômico com investimentos
Texto afirma que “primeira iniciativa será definir com os governadores dos 27 estados um planejamento para retomar obras paradas e definir obras prioritárias”, expansão do mercado interno e uma nova legislação trabalhista. Governo também promete criar um novo programa, “Empreende Brasil”, voltado para micro, pequenas e médias empresas, com crédito a juros baixos.
2 – Desenvolvimento social com trabalho e renda
Texto promete um “salário mínimo forte”, acima da inflação, um novo Bolsa Família com benefício de R$ 600 e mais R$ 150 adicionais por criança de até 6 anos, um programa de renegociação de dívidas chamado “Desenrola Brasil”, e isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 mensais no contexto de uma reforma tributária. A carta fala ainda em igualdade salarial para homens e mulheres, sem especificar quais medidas seriam tomadas para isso.
3 – Desenvolvimento sustentável e transição ecológica
Carta diz que Lula se compromete a zerar desmatamento na Amazônia e emissão de gases do efeito estufa na matriz elétrica, e promete apoiar a agricultura de baixo carbono e familiar. Repete promessa já feita de criação de um Ministério dos Povos Originários e diz que vai acabar com garimpo ilegal em terras indígenas.
4 – Educação
Promete ampliar a Lei de Cotas, incluindo a pós-graduação, e investir em mais universidades. Também diz que vai construir creches, aumentar recursos para merenda escolar, implantar ensino em tempo integral e uma bolsa para estudantes que completarem o ensino médio. Afirma que Lula vai universalizar a banda larga nas escolas e expandir o ensino técnico profissionalizante.
5 – Saúde
Diz que vai “fortalecer” o SUS, retomar o Farmácia Popular, criar o programa “Médicos Pelo Brasil”, criar um Centro Nacional de Telemedicina, investir na saúde da mulher e no Programa Nacional de Vacinação.
6 – Habitação e infraestrutura
Promete retomar o programa Minha Casa Minha Vida (que foi rebatizado de Casa Verde e Amarela no governo Bolsonaro), universalizar acesso a luz e água e retomar obras paradas com um Novo PAC.
7 – Segurança
Promete a criação de um Ministério da Segurança Pública, que implementaria um Sistema Único de Segurança Pública. Diz ainda que vai investir na formação e profissionalização de policiais e rever decretos e portarias que permitiram acesso a armas. Também promete enfrentar “o aumento
alarmante de casos de feminicídio e a violência contra a juventude negra, especialmente nas periferias”.
8 – Cultura e esportes
Promete recriar o Ministério da Cultura, que implantaria um Sistema Nacional de Cultura. Também diz que vai retomar o programa Cultura Viva e aumentar o investimento no Bolsa Atleta.
9 – Direitos humanos e cidadania
Diz que vai enfrentar discriminações como machismo, racismo, LGBTfobia e capacitismo. Promete recriar o Ministério da Igualdade Racial e assegurar a liberdade de religião e culto.
10 – Reindustrialização do Brasil
Promete uma “estratégia nacional para avançar em direção à economia do conhecimento”, com ênfase ” nas indústrias de software, defesa, telecomunicações e outros setores de novas tecnologias”.
11 – Agricultura sustentável
Promete investir na Embrapa, crirar um Plano de Recuperação de Pastagens Degradadas e reduzir as taxas de juros no Plano Safra, no Pronamp e no Pronaf “para produtores comprometidos com critérios ambientais e sociais”. Diz ainda que vai “estabelecer uma política de preços mínimos para estabilizar os preços dos alimentos e garantir comida na mesa das famílias”.
12 – Política externa
Promete investir na integração regional no Mercosul, nos Brics, com os países da África, União Europeia e EUA. Diz que vai fortalecer pactos como o da Convenção do Clima.
13 – Democracia e liberdade
Promete fortalecer a democracia e ressalta o compromisso com uma “gestão da economia com credibilidade, responsabilidade e previsibilidade”.