Apesar da lenta recuperação da economia do país, o Produto Interno Bruto de 8 das 27 unidades da federação deve recuperar o nível pré-crise ao fim do próximo ano. Além de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, puxados pelo bom desempenho agropecuário, estão na lista cinco estados do Norte e Santa Catarina. Nenhum deles, portanto, das regiões Sudeste e Nordeste.
Os cálculos são dos economistas Adriano Pitoli e Camila Saito, da Tendências Consultoria Integrada, que estimaram os desempenhos regionais do período 2016-2019. O estudo busca antecipar os números oficiais do PIB por unidade da federação, divulgados pelo IBGE com três anos de defasagem em relação às Contas Nacionais. Os últimos dados oficiais estaduais referem-se a 2015.
Uma boa notícia do estudo é que todas as 27 unidades da federação devem exibir taxas positivas neste e no próximo ano, um espalhamento inédito desde 2011, quando a economia nacional cresceu 4%. A consultoria prevê crescimento do PIB nacional de 1,7% em 2018 e de 2,9% em 2019. Os cenários consideram a vitória nas eleições de um candidato a presidente comprometido com as reformas.
A safra de soja deve bater recorde neste ano e impulsionar o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul, que devem ter crescimento de 3,7% e 2,2% do PIB, respectivamente. A agropecuária também promete ser mais generosa em Roraima e em Rondônia, contribuindo para alta de 3,2% do PIB de cada um deles. Essas quatro Estados devem acelerar ainda mais no ano que vem e recuperar o nível anterior à crise.
O PIB de Santa Catarina, por sua vez, pode crescer 2,8% neste ano e 3% em 2019, segundo a Tendências. Esse crescimento será promovido pela indústria, com destaque para os segmentos de alimentos (carnes e aves) e bens de capital. “As vendas do comércio também têm desempenho favorável no Estado, que vai ser o único do Sul a recuperar o nível pré-crise em 2019”, diz Camila.
Na região Norte, além de Roraima e Rondônia, a consultoria chamou atenção para o crescimento projetado de 3,2% e 5,4% do Pará. Em 2019, o PIB local estará 11,3% acima do nível verificado em 2014. Isso é explicado pelo crescimento da produção de minério de ferro, com destaque para o projeto S11D, da Vale, maior empreendimento da história da mineradora.
Mais sensível aos ciclos econômicos, São Paulo tem potencial para crescer 2,4% e 3,3% neste ano e em 2019, respectivamente, ritmo superior ao projetado para a média nacional. O desempenho previsto tem entre suas premissas a maior produção de automóveis e bens de capital. “O Estado não recupera o nível de antes da crise já em 2019 por causa dos números ainda fracos da construção civil, atividade que tem peso relevante”, diz Pitoli.
Das 27 unidades da federação, os piores desempenhos projetados pela consultoria estão numa faixa do litoral brasileiro que se estende desde o Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro, abrangendo, portanto, quase a totalidade dos Estados do Nordeste. Em 2019, o PIB de Alagoas e Sergipe, por exemplo, ainda estão 8,4% e 7,8% abaixo do nível verificado antes da crise.
Segundo Pitoli, Rio e Pernambuco percorreram uma trajetória semelhante nos anos que antecederam a recessão – ambos receberam pesados investimentos estatais, especialmente da Petrobras, com importante injeção de recursos do BNDES. Também teriam sofrido uma “ressaca dramática” da falta desses recursos na recessão.
Daqui para frente, a trajetória do Rio e de Pernambuco pode ser bastante diferente, na avaliação da Tendências. A economia fluminense tende a ser ajudada pelo aumento da produção de petróleo da Bacia de Santos, com reflexos na arrecadação de royalties e no consumo de bens e serviços. O PIB do Rio cresceria, dessa forma, 3,6% em 2019. Pernambuco, porém, não teria um indutor claro de retomada.
A 4E Consultoria também calcula crescimento do PIB de todos os 26 Estados mais o Distrito Federal em 2018, mas tem estimativas menos dispersas do que a Tendências. A projeção mais otimista é para São Paulo, com alta de 2,5%, principalmente por causa da recuperação industrial. A projeção para a indústria paulista é de crescimento de 3,8%.
Como a Tendências, a 4E destaca positivamente o desempenho de Santa Catarina, para qual calcula expansão de 2,1% em 2018. O mercado de trabalho do Estado apresenta, por exemplo, bons números, como a menor taxa de desemprego (6,5%) entre todas as 27 unidades da federação. “Pelo terceiro trimestre consecutivo, o crescimento de Santa Catarina despontou na região (Sul)”, diz o relatório, citando as altas em 2017 do PIB (1,5%), agropecuária (10%), indústria de transformação (3,3%) e comércio (9,8%) catarinenses.
Já o Santander calcula crescimento “forte” (acima de 2%) para oito Estados em 2018. São todos das regiões Sul e Centro-Oeste, além de São Paulo e Amazonas. O Sudeste e o Norte, por sua vez, devem ter desempenho heterogêneo. Apesar do cenário favorável para São Paulo e Amazonas, a tendência é que outros Estados dessas regiões tenham crescimento “moderado” (de 1% a 2%) ou “fraco, estabilidade ou queda” (de 1% a -1%). O pior desempenho deve ficar para o Nordeste. Para o banco, quatro Estados da região devem ter crescimento “moderado” e cinco devem ter crescimento “fraco, estabilidade ou queda”. “É uma região em que, na média, o desemprego ainda está alto”, diz Rodolfo Margato, economista do Santander. No primeiro trimestre, dos seis Estados com maior desemprego, cinco eram do Nordeste (Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Maranhão).
Já o Itaú criou uma metodologia própria para calcular todos os meses o PIB dos 26 Estados e do Distrito Federal, com base em pesquisas setoriais do IBGE e dados de emprego.
No acumulado de 2017, eram dois Estados com contração moderada da atividade, 11 com variação considerada neutra e 14 com crescimento moderado. Quatro meses depois, os números já eram substancialmente melhores. Em abril, havia 10 Estados com variação considerada neutra, 16 com crescimento moderado e um com crescimento intenso (Maranhão, com 8,8%). Além disso, nenhuma das entidades da federação apresentava retração, na metodologia do banco.
“De maneira geral, percebemos que a atividade já está sendo retomada na maior parte dos Estados”, diz Paula Yamaguti, economista do Itaú. “A recuperação está vindo, em diferentes ritmos, mas todos eles apresentaram evolução em relação ao ano passado.”
Segundo a 4E, houve crescimento de todas regiões do país neste ano, em relação aos últimos três meses de 2017. A expansão foi liderada pelo Norte (2,1%), seguido por Nordeste (1,1%), Sul (0,7%), Sudeste e Centro-Oeste (ambas com 0,2%).
Via Valor Econômico