No entanto, a alta de apenas 0,1% do consumo das famílias acendeu um alerta sobre a capacidade de expansão da demanda neste ano; consultorias e governo esperam PIB de 1,9% a 3% em 2018.
A economia brasileira cresceu 1% em 2017, encerrando, desta forma, um ciclo de dois anos de recessão. No entanto, o desempenho do consumo das famílias no quarto trimestre gerou dúvidas sobre o ritmo de expansão da demanda.
Nos últimos três meses de 2017, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 0,1% na comparação com o trimestre imediatamente anterior (na margem), segundo divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) ontem. A variação ficou abaixo do que a alta de até 0,4% que o mercado vinha esperando.
O economista da 4E Consultoria Thiago Curado avalia que esse comportamento veio na esteira dos “números ruins” do consumo das famílias (+0,1%), pela ótica da demanda, e da atividade dos serviços (+0,2%) e do comércio (+0,3), pelo lado da oferta, na mesma base de comparação.
“Havia uma expectativa de que esses componentes – que puxaram o início da recuperação – ganhassem um pouco mais de fôlego no quarto trimestre. No entanto, eles deram uma patinada, acendendo o sinal amarelo sobre essa fonte de dinamismo”, diz Curado.
No segundo e no terceiro trimestres de 2017, o consumo das famílias, por exemplo, chegou a registrar altas de 1,2% e 1%, respectivamente, estimuladas pela liberação das contas inativas do FGTS e da surpresa desinflacionária, que acabou promovendo um aumento real da renda de 2,3% em 2017. “Com o consumo crescendo apenas 0,1% no quarto trimestre, fica a dúvida se este número reflete apenas uma ‘ressaca’ do período anterior, ou se está sinalizando que a expansão das compras das famílias, neste início de 2018, ocorrerá em ritmo menor do que o mercado vinha projetando”, completa Curado, que prevê avanço de 1,9% para o consumo neste ano, após o indicador ter marcado elevação de 1% em 2017.
O analista da Tendências Consultoria Thiago Xavier afirma, por sua vez, que esperava uma expansão do PIB de 0,4% na margem no quarto trimestre. Segundo ele, a desaceleração da atividade do comércio surpreendeu, ao passar de alta de 1,7% no terceiro trimestre, para um aumento de 0,3%, no último. Contudo, esses dados não sinalizam uma piora nas projeções da Tendências, que espera acréscimo de 3% nas compras das famílias em 2018.
“Eu ainda vejo um cenário benigno para o consumo à frente. Há fatores que estão melhorando a situação financeira das famílias”, diz Xavier, citando o ambiente de inflação controlada, expansão das concessões de crédito para a pessoa física e aumento da ocupação. “Por mais que a geração de vagas esteja sendo impulsionada pela informalidade, isso significa que as pessoas estão obtendo remuneração, processo que eleva a massa de rendimentos”, afirma Xavier. Para o PIB deste ano, a Tendências espera expansão de 2,8%, enquanto a 4E calcula crescimento de 1,9%.
Mercado de trabalho
O professor de economia da Trevisan Escola de Negócios Walter Franco Lopes comenta, por sua vez, que a dinâmica do mercado de trabalho neste primeiro trimestre irá indicar o ritmo de expansão do PIB. “Se houver um desempenho positivo na geração de vagas e redução do desemprego no início do ano, o empresariado vai começar a tomar crédito para investir”, afirma Lopes.
Segundo Curado, o “sinal amarelo” acendido pela dinâmica do consumo também colocou em dúvida a capacidade de crescimento dos investimentos em 2018, já bastante minimizada pelas incertezas políticas deste ano eleitoral. Em 2017, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, investimentos) caiu 1,8%, ante 2016, sendo, assim, a quarta queda anual. Para este ano, a 4E espera um crescimento de 6,7% da FBCF, o que, para Curado, está longe de recuperar a retração acumulada de 27,4%.
Já para o pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Claudio Considera, a expansão de 1% do PIB em 2017 foi significativa, contudo, para o País conseguir crescer acima de 3% em 2019, 2020, precisará implementar reformas fiscais.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ainda ontem, defendeu que o ritmo de avanço da economia é forte e manteve a projeção de alta de 3,0% para 2018. Questionado sobre o aumento de 0,2% na renda per capita em 2017, ele respondeu que esse indicador tem um processo de defasagem, devido à longa recessão.
Via DCI