Com 345 mil postos formais de trabalho extintos nos seis primeiros meses do ano, a economia brasileira deve acelerar a diminuição de empregos no segundo semestre. Segundo estudo do Conselho Federal de Economia (Cofecon) divulgado nesta semana, o país deve encerrar o ano com 1 milhão de vagas com carteira assinada a menos.

Com base no estudo, a entidade recomenda ações de longo prazo para reativar o mercado de trabalho. Para a entidade, os sucessivos reajustes da taxa Selic, juros básicos da economia, estão provocando impacto direto sobre a geração de empregos nos últimos anos. Nos últimos 12 meses, o efeito intensificou-se, resultando na extinção de postos de trabalho.

De acordo com o levantamento, o início do ciclo de elevação dos juros básicos, em abril de 2013, coincidiu com a redução da geração de empregos, conforme as estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgadas pelo Ministério do Trabalho. Naquela época, a Selic estava em 7,25% ao ano, no menor nível da história, e passou a ser reajustada com alguns intervalos de estabilidade, desde então.

A partir do segundo semestre do ano passado, quando o país passou a fechar mais postos de trabalho do que criou, a situação agravou-se. Na época, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) segurou a taxa básica, deixando para aumentar a Selic somente após o segundo turno das eleições presidenciais. De lá para cá, foram sete aumentos consecutivos, que elevaram a Selic para 14,25% ao ano, no maior nível desde outubro de 2006.

No segundo semestre do ano passado, o país fechou 176 mil postos de trabalho com carteira assinada. Nos seis primeiros meses deste ano, o fechamento aumentou para 345 mil vagas. Para o Cofecon, a maior extinção de emprego indica que o reajuste da taxa Selic foi maior que o ideal, passando a sufocar a economia.

“Os ajustes de curto prazo da política econômica têm tido reflexo direto nas condições de vida de grande parte da população, concomitante à ausência de um projeto que contemple políticas capazes de pavimentar uma trajetória sustentada de crescimento”, destacou o Cofecon em nota.

Para a entidade, a redução da taxa Selic representa apenas uma parte do processo para revigorar o mercado de trabalho. Entre as outras medidas defendidas pelo Conselho Federal de Economia estão investimentos em infraestrutura, com destaque para a retomada do programa de concessões; simplificação tributária; redução da burocracia; condições favoráveis de crédito a setores que sejam grandes geradores de emprego; além de incentivos à ciência, tecnologia e inovação.

O Cofecon também defende o aumento da competição entre os bancos, com a adoção de medidas que reduzam o spread bancário – diferença entre as taxas pelas quais as instituições captam recursos e as taxas com que emprestam ao consumidor. O indicador é considerado a principal fonte de lucro dos bancos. “É recomendável a adoção de medidas que reduzam o spread bancário e estimulem a concorrência no setor, na medida em que causa espécie o aumento dos lucros dos bancos em meio à gravidade da atual crise”, destaca o comunicado da entidade.

 

Taxa Selic

O Conselho Federal de Economia entende que a elevação da Selic, taxa básica de juros, para 14,25% é exorbitante. No estudo, as seguidas altas na taxa de juros são apontadas como agravante da situação do mercado de trabalho no Brasil entre 2002 e 2015.

O vice-presidente do Conselho Federal de Economia, Julio Miragaia, explica como a alta da Selic afeta o dia a dia do cidadão. “O Banco Central aumenta a taxa básica de juros, aumenta consequentemente todas as demais taxas. O cartão de crédito, o cheque especial, o crédito pessoal, tudo isso o consumidor já sentiu. Ele já vem sentindo há dois anos esse impacto, dai a retração do crédito, do consumo. Agora ele está sentindo talvez o pior efeito, que é o efeito do emprego.  Agora ele está sentindo na prática ou na dificuldade de arrumar emprego ou na perda do posto de trabalho.”

O estudo destaca que foram eliminados 390 mil empregos com carteira assinada no primeiro semestre de 2015 no país e alerta para a possibilidade de chegar à marca de 1 milhão de empregos perdidos até o fim do ano.

Para o professor de economia da Unb Roberto Ellery, o aumento da taxa de juros se faz necessário para combater a inflação.

“Quando você faz uma elevação da taxa de juros, você causa um mal estar nas pessoas. As pessoas não vão conseguir comprar o que estavam pensando, não vão conseguir trocar de carro, talvez não comprem o apartamento, porque a elevação dos juros encarece os financiamentos. Essa escolha que o Banco Central está colocando  é mais ou menos como escolher tratar o dente. Se você não trata, vai piorando. Então o que o Banco Central está fazendo agora é um ajuste necessário, quanto antes feito melhor.”

O Comitê de Politica Monetária (Copom) do Banco Central entende que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no fim de 2016.

 

 

Via Economia SC