Trabalho pioneiro do médico Cesar Simionato possui mais de 200 espécies.

A área de 1,1 mil metros quadrados pode ser chamada de farmácia ou até de sala de aula. Alguns bancos feitos de troncos de madeira compõem a estrutura para receber os visitantes, que são constantes no local. Nada de prateleiras ou medicamentos em caixas. O que se vê ao redor são mais de 200 espécies de plantas medicinais, uma verdadeira farmácia ao ar livre. E quem comanda tudo por ali é o médico César Paulo Simionato. Além de atuar na unidade de saúde do Rio Tavares, ele coordena, há quase 20 anos, oHorto Medicinal do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
A experiência de quase 30 anos na área de plantas medicinais começou quando Simionato trabalhava como médico em um posto na Costa da Lagoa, em Florianópolis. Um paciente comentou que usava a flor do mamão macho para curar tosse. O relato aguçou a curiosidade do médico recém-formado, que foi atrás de mais informações.
— Aprendi muita coisa com a comunidade de lá, onde conhecia muita gente. Eles me falavam do uso popular e eu procurava na literatura. O que sei aprendi de forma auto-didática — explica.
Informação e treinamento
Em 1997, começou o esboço do projeto do Horto Medicinal do HU. Na época, em uma pequena área onde hoje é o Parque Ecológico do Córrego Grande. Em 1999, foi transferido para uma área próxima ao Hospital Universitário.
O espaço e o trabalho de Simionato são hoje referência no tema. Para o médico, o espaço é fundamental para mostrar a importância das plantas para os profissionais da saúde, que contam apenas com uma matéria optativa sobre o tema na grade curricular da UFSC. Além disso, auxiliar a comunidade e aprender com ela, já que muitos trazem inclusive mudas para serem estudadas no Horto:
— Há um abismo entre o profissional da saúde e a população. Nossa função aqui é receber as mudas e procurar estudá-las — diz o médico.
Ele acrescenta que pesquisas mostram que 80% da população brasileira usa plantas medicinais, porém grande parte dos médicos não tem formação na área. E aí que aparecem os riscos, principalmente na interação entre medicamentos tradicionais e as plantas.
— Eles não têm um treinamento e uma visão para isso. É uma luta inglória essa e até hoje às vezes ainda me chamam de charlatão (risos).
Mas Simionato não está sozinho nessa luta. Prova disso é que o mercado de fitoterápicos tem crescido 10% ao ano no Brasil. Sérgio Tinoco Panizza, presidente do Conselho Brasileiro de Fitoterapia (Conbrafito) afirma que ainda há um longo caminho pela frente.
— Quando há plantas medicinais para assistência de baixa gravidade, é possível desonerar os hospitais, que estão sempre cheios de gente, e facilitar os atendimentos — defende.
Troca de informações na arte do cultivo

O casal Seiji e Kazuko Futatsugi chega pontualmente ao encontro. São 14h de uma quinta-feira e está prestes a começar mais um Quinta das Plantas, projeto do Centro de Educação Ambiental da Associação dos Funcionários Fiscais do Estado de Santa Catarina (Affesc), em Canasvieiras. Depois de mexer em mudas e ajudar no plantio, o casal se divide. Ela fica escutando atentamente as explicações sobre o uso de algumas espécies. Ele concentra-se na atividade de regar as mudas.
O grupo, composto principalmente por idosos como o casal de japoneses, e profissionais da saúde, se reúne com um propósito: conhecer mais sobre as plantas medicinais. Viviane Corazza, farmacêutica e especialista no tema, ajudou a fundar o grupo há cerca de quatro anos. Ela conta que a sede da Affesc, onde ocorrem os encontros, começou a ganhar as primeiras mudas há quase 20 anos, com a paixão por plantas do atual presidente da associação, Cidemar Dutra. Hoje mais de 200 espécies fazem parte da sala de aula do grupo.
— O Quinta das Plantas é um grupo aberto à comunidade e é uma troca de experiência e conhecimento — afirma a farmacêutica.
Para auxiliar neste conhecimento, o grupo conta com a ajuda do ambientalista Alesio dos Passos, que já ministrou palestra sobre o tema em mais de 200 cidades catarinenses. Nativo de Florianópolis, ele destaca a importância de casar ciência com a sabedoria popular. Para isso, é essencial conhecer o nome botânico da planta, já que elas podem ganhar diferentes denominações dependendo da região. Outra preocupação é com a interação dos medicamentos, que pode causar sérios danos e prejudicar a eficácia das plantas e dos demais medicamentos. As grávidas devem ter um cuidado especial com algumas espécies.
Quem aplica no dia a dia os ensinamentos do especialista é a aposentada Ione Uehara, que garante que aos 73 anos nem sabe o que é médico. Ela afirma que usa apenas ervas e chás que tem em casa.
Agora Alesio dos Passos quer ampliar o conhecimento. Para isso, posta diariamente no Facebook diferentes espécies de plantas medicinais, explicando seu uso, nome científico e ilustrando com fotos.
– Também conto um pouco da história da planta para resgatar a sabedoria popular – afirma.
Desde o começo do ano, mais de 340 plantas já tiveram a história contada na rede social.
FIQUE POR DENTRO
HORTO MEDICINAL DO HU
Visitação e atendimento à comunidade às quintas-feiras: entre 8h e 11h
Local: Atrás do Hospital Universitário da UFSC, no Centro de Ciências da Saúde, no bairro Trindade
QUINTA DAS PLANTAS
Às quintas-feiras, a partir das 14h. O telefone para contato para agendamento de visitas são (048) 32661626/ (048) 32661933 ou por e-mail centroambiental@affesc.com.br
Local: Rodovia José Carlos Daux, em Canasvieiras
Via Diário Catarinense